Retirado do Blog de Graça Craidy
Seis meses depois de entrar na C.I.N, Neil vai para a Standard, onde aprende tudo do ramo com seus dois mestres – Cosi Jr e Duailibi – e então vai para a Almap (1967), aprender mais um tanto com ” o outro” representante do Bill Bernbach no Brasil, Alex Periscinotto.
Em 1969, em plena era AI-5, o dono da brasileira Norton Propaganda, Geraldo Alonso, ao perceber que criatividade era a illusio que dominava o mercado, contratou Neil Ferreira e uma equipe de criadores que fizeram a sua Revolução Criativa à moda Bill Bernbach, no Brasil, registrada em um famoso anúncio publicado na revista Propaganda, com a foto da nova equipe de redatores e diretores de arte da Norton, cada um empunhando suas “armas”: máquinas de escrever, régua T, pincéis, canetas, sob o título ” Os subversivos” – em clara provocação ao regime militar que comandava o país. Neil relembra o conteúdo:
O anúncio dizia mais ou menos: “Já era tempo de denunciá-los à nação. Olha as armas terríveis que eles têm nas mãos. São armas que podem abalar governos ou vender produtos. Com elas, esses homens são capazes de mudar a história de um país ou a história de um produto. Basta apertar um botão. De uma máquina fotográfica. Uma câmera de cinema. Um aparelho de TV. A tecla de uma máquina de escrever. Eles usam essas armas para gerar insatisfações, criar descontentamentos, acender desejos (…)” E vai por aí. Há um permanente subtexto referindo-se à situacão política do momento. A milicaiada vivia “denunciando subversivos à nação”. Quando um “aparelho” caía, eram apresentadas fotografias do “vasto material subversivo apreendido”, geralmente máquinas de escrever, estêncils, mimeógrafos. ( FERREIRA, 2006)
Segundo Ricardo Freire, no texto do Hall of Fame do Clube de Criação de São Paulo, a revista foi recolhida das bancas. E Neil, o autor do anúncio, chamado para dar satisfações à censura:
Não me lembro da revista ter sido recolhida, mas eu fui “recolhido” (gentilmente, anote-se) a um escritório de censura, na rua Xavier de Toledo (…) Falei com o diretor, um militar em roupas civis, que me perguntou muito sobre “o que eu queria dizer com aquele anúncio e por que tinha escolhido a palavra “subversivos” tão grande no título”. Repeti tim-tim-por-tim-tim igual explicação que havia dado ao Geraldão [ Alonso] antes do anúncio sair. (…) Sobre a palavra “subversivo”, falei horas, não fui sequer ouvido. Então apelei e falei, “olha coronel, essa palavra equivale a mulher pelada no anúncio, é só para chamar atenção”. Ele me ofereceu água, cafézinho e no maior cavalheirismo me disse “porra por que não falou isso antes “. E todo mundo foi pra casa dando risada.( FERREIRA, 2006)
Em menos de um ano, Os Subversivos causaram uma reviravolta no faturamento da Norton, de tal maneira que em 1970, o empresário Geraldo Alonso ganhou o Prêmio Colunistas como Publicitário do Ano e Neil, o Prêmio Colunistas como Exemplo do Ano, que ele justifica:
… exemplo de criatividade e por pegar uma agência superconservadora, quase no fundo do poço, e transformá-la em um ano numa das mais criativas e vitoriosas do Brasil. Sangue, suor e lágrimas. ( FERREIRA, 2006)
Nem uma década depois de transferir-se para a propaganda e Neil já havia construído uma carreira meteórica e de sucesso. Ele próprio analisa o espaço dos possíveis daquela realidade conjuntural, entre 60 e 70:
Naquela época não era como hoje que existem 10 agências contratando 100 redatores. Naquela época, eram 10 agências contratando 3 redatores. Os caras mudavam de emprego toda semana, dobravam o salário todo dia. (FERREIRA, in FREIRE, 1999.)