Comentário do Armando Ferrentini depois de ler o texto “Neil, o provocador “, de Roberto Duailibi.

Querido amigo Duailibi: Acabo de ler seu artigo “Neil Ferreira, o Provocador”, no Propmark desta semana, ora em circulacao. Gostei demais, como sempre aliás. Mas este me fez ler e relê-lo, por ter sido uma das “vítimas” do sarcasmo permanente do Neil, com quem me desentendi mais de uma vez, mas sempre respeitando sua grandeza profissional. Ao me deparar em primeiro lugar com o título que você deu a sua brilhante narrativa, devo parabeniza- lo, pois sempre curti o espírito provocador do Neil e muitas vezes, como bom neto de imigrantes napolitanos, divertia-me sem ele se dar conta disso. Ou se dava, preferia não deixar claro, para que esse jogo pudesse continuar.

Parabéns uma vez mais pela sua narrativa sempre brilhante e certeira ao tratar de um assunto que fez e no caso sempre fará parte da fantástica história da propaganda brasileira. Pena que não se fazem mais Neils como antigamente. A verdade é que nossos desentendimentos nos fortaleciam, até chegando hoje a conclusão que já não se fazem mais Neils como antigamente. E muito menos Robertos Duailibis, com a capacidade de muitos anos passados, conseguir descrever como se fosse no mesmo dia das provocações, episódios que ajudam a valorizar a própria história da propaganda brasileira. Abraços do Armando Ferrentini, antes de mais nada, um grande admirador seu.

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Em seguida, Ferrentini mandou este depoimento.

Querida Eliana: Tudo o que poderia falar do Neil, o Duailibi já escreveu no meu jornal. Para ser diferente, teria que inventar, o que não gostaria de fazer. Espero que você compreenda e me poupe dessa situação. Se bastarem poucas palavras, afirmo com segurança que perdemos muito cedo  um profissional excelente da criação publicitária brasileira. Neil deixou e prossegue deixando muitas saudades na criação publicitária brasileira. Nosso país tem uma história recente de qualidade na sua propaganda, em grande parte devido ao apoio de uma nova geração de profissionais dos anunciantes, que tiveram a coragem de convencer seus superiores hierárquicos , que a comunicação publicitária precisava se adaptar aos novos tempos. Em muito contribuiu para essa evolução, festivais internacionais que motivaram os anunciantes, donos das verbas aplicadas na comunicação publicitária das suas empresas. Destaco com louvor o Cannes Lions, motivado no Brasil por uma figura inesquecível da então CP-Cinema e Publicidade, dirigida pelo inesquecível Vitor Petersen, um alemão que deixou o seu país e se radicou inicialmente na Argentina, onde acabou se convencendo que o país promissor da América do Sul era o Brasil, cujo desenvolvimento econômico era não apenas promissor, mas já o início de uma invejável realidade econômica. Peterson em boa hora transferiu-se então para o Brasil, incrementando a CP-Cinema e Publicidade do Brasil, uma produtora de comerciais para cinema, cuja exibição nas telas, embora combatida por alguns críticos especializados em longas metragens, foi ganhando terreno devido aos esforços muitos empresários do setor, apoiados por uma imprensa publicitaria, entre as quais me incluo, que estimularam a ideia da exibição de comerciais nas salas de cinema em todo o Brasil. Não foi fácil para ninguém essa tarefa, mas a publicidade uma vez mais venceu as resistências ortodoxias e a própria resistência do governo federal, que entre muitos sim e não, aprovou essa veiculação da publicidade antes das sessões dos longas.

O próprio governo federal brasileiro, antes defensor da proibição, acabou cedendo e regulando a matéria. Não foi uma batalha fácil, como pode parecer por estas poucas linhas que escrevo, mas fui um dos jornalistas batalhadores para que houvesse a aprovação e a regulamentação dessa “mídia” em nossas salas de projeção em todo o país. E aqui se destaca a figura gigante de Victor Petersen, em uma luta aparentemente inglória, mas com a vitoria  desejada pelo mercado publicitário brasileiro. Faziam parte dessa enorme batalha, alguns publicitários da Criação, que sabiam da importância da projeção de comerciais antes da exibição dos longas. Um desses profissionais foi o saudoso Neil Ferreira, que embora ainda muito jovem – e talvez por isso – engajou-se nessa luta para a liberação da publicidade nas salas de cinema, antes da projeção dos longas.

O mercado logo se ajustou a mais essa possibilidade de exibição e hoje, como público presente a uma sessão de longas, até aplaude alguns comerciais projetados. Neil Ferreira deve estar feliz onde se encontra.

 Armando Ferrentini