Quando recebi o texto de Roberto Duailibi contando o que lembrava sobre Neil pedi que ele tentasse se recordar de outros casos, já que conviveram durante muito tempo. Pouco depois recebi um relato do que teria ocorrido em uma viagem a Paris, logo após o ataque às torres gêmeas, nos Estados Unidos. Chega a detalhes, como fixar a data da chegada ao aeroporto. Surpreendentemente a Polícia francesa logo determina que um agente, de origem marroquina, passe a segui-lo devido à semelhança do Neil com o terrorista que pilotava o avião que se chocou com a torre. Finalmente Neil confronta os policiais e acabam se entendendo e participando juntos do roteiro turístico previamente escolhido. Bem parecido com o Neil, certo? Fiquei muito admirada já que Neil nunca dividiu esta história com a família. Ainda bem que se abriu para o Roberto que tantos anos depois teve a oportunidade de divulgá-la aqui neste site.
Neil em Paris
Eu vou contar a primeira viagem do Neil a Paris, tal como ele me contou, quer dizer, eu não estava com ele e não pude conferir se era verdade ou não.
O Neil viajou para Paris em 12 de setembro de 2001, logo após o atentado da turma da Al Qaeda às torres de Nova Iorque. Depois desse dia o mundo, em choque, nunca mais foi o mesmo. Ainda no aeroporto, passando por uma banca de jornais, ele viu o retrato dele na capa de uma revista, ou de um jornal, e foi lá ver de perto o que havia acontecido. Era uma foto de Mohammed Atta, o terrorista que atirou o avião contra a primeira torre. Mohamed era sósia dele, pareciam irmãos.


Neil ficou preocupado quando um policial, a paisana, começou a olhar muito atentamente para ele. “Eles não podem estar me confundindo”, pensou Neil, “o terrorista já morreu”.
Mais tarde, caminhando pela avenida Champs-Élysées, percebeu que havia um policial à paisana atrás dele. Entrou numa loja, o policial entrou atrás. Parou num bistrô para comer alguma coisa, o policial ficou por perto. Quis ir a um cinema, mas achou que ficaria chato o policial aborda-lo e convidar a ir a uma delegacia.
Foi ficando irritado, ia estragar suas férias. Neil criou coragem e se dirigiu ao policial, “Eu sei que vocês estão pensando que eu sou um árabe terrorista, não sou. O terrorista que vocês confundem comigo morreu, o avião dele bateu e ele foi o primeiro a morrer. E eu estou aqui vivo, preparado para voltar para o meu país”. “De onde você é?” perguntou o policial em árabe. A polícia francesa colocara um agente de origem marroquina para essa tarefa. Quando notou que o Neil não entendia a língua, repetiu a pergunta em francês. “Sou brasileiro”, respondeu Neil.
“Quantos dias você vai ficar em Paris?” perguntou o policial. “Três dias e pretendo fazer esse roteiro”, disse Neil, mostrando um guia da cidade.
Aí o policial propôs, “Essa investigação para mim pode ser muito divertida, posso acompanhá-lo?”.
Neil e o policial tornaram-se amigos e passaram juntos os três dias em Paris.
Essa foi a história que ele me contou. Até onde não sei é verdade.