Moisés Rabinovici indicou para mim os nomes de Rodrigo Mesquita e João Meirelles para escrever um depoimento sobre atuação do Neil na campanha publicitária da Fundação SOS Mata Atlântica. Fui logo atendida pelo João, que mandou um lindo texto com imagens de anúncios e uma foto em que ele aparece, aos 27 anos, em frente a um outdoor da campanha. Hoje o João dirige o Instituto Peabiru, sediado no Pará cuja missão é fomentar o protagonismo de grupos sociais da Amazônia para a promoção do pleno acesso aos seus direitos fundamentais.

EMF

Depoimento sobre a identidade visual da Fundação SOS Mata Atlântica

Em 1986, a convite de Rodrigo Mesquita, que assumiu a presidência da Fundação SOS Mata Atlântica, na medida que Fábio Feldman saíra como candidato a deputado federal, tornei-me vice-presidente da entidade no lugar de Roberto Klabin. Um dos primeiros trabalhos em que me engajei foi a busca de uma identidade visual para que a SOS se apresentasse à sociedade e levasse adiante as campanhas de mobilização da opinião pública que pretendia. A proposta foi convidar uma grande agência de publicidade para liderar o processo de comunicação visual e mobilização de parceiros. Assim, Rodrigo Mesquita e eu procuramos o Roberto Duailibi, da agência de publicidade DPZ e ele prontamente abraçou a causa envolvendo gratuitamente a sua equipe. Para criar a identidade visual e a campanha da nova entidade ambientalista Roberto destacou Neil Ferreira e sua equipe.

Em poucas semanas fomos chamados à DPZ e Neil nos apresentou a proposta
de logotipo para a SOS – a bandeira do Brasil com parte do verde rasgado; e, em
lugar das palavras “ordem e progresso”, o mote da entidade – “SOS Mata Atlântica”; e, um slogan para a campanha “Estão tirando o verde da nossa terra”.

A proposta foi aprovada com entusiasmo pelo conselho da SOS e Neil e sua
equipe prepararam as peças da campanha nas diferentes mídias – papelaria,
folhetos, anúncios para outdoor, anúncios para televisão etc.

Para apoiar a captação de recursos iniciamos a produção e comercialização
de camisetas. Em poucos meses estávamos vendendo 40 mil unidades e,
novamente, recorremos à DPZ, que nos apresentou a Hering, a maior fabricante de camisetas do Brasil, para o licenciamento da marca da SOS. Nos dois anos de
campanha com a Hering foram confeccionados 49 modelos, vendendo-se uma cifra superior a 650 mil camisetas. O logotipo de Neil foi tão marcante, que 34% das camisetas (225 mil unidades) foram do modelo em branco com o logotipo da SOS Mata Atlântica

Quem acompanhou a campanha publicitária da SOS entre 1987 e 1988, há
quase quarenta anos, em que centenas de meios de comunicação se envolveram,
graças ao empenho de Rodrigo Mesquita, bem se recorda do impacto que a campanha teve, com um logotipo tão assertivo e pungente, na população brasileira.

Além do apoio das federações do comércio e indústria, Rodrigo conseguiu amealhar o apoio dos fornecedores da DPZ, das associações que representavam empresas de rádio, televisão, jornais e publicidade, resultando na maior campanha ambientalista da história do Brasil, apoiada voluntariamente pelas 7 emissoras de televisão aberta, mais de 200 rádios, 110 jornais, 80 revistas, além de 50 outdoors em São Paulo. E, isso num momento em que não existia a tv por assinatura, as mídias sociais e a internet dava os seus primeiros passos.

Se essa campanha fosse paga, somaria pelo menos três milhões de dólares
norte-americanos, algo hoje próximo a R$ 16 milhões. Rodrigo trabalhava a nível
institucional e eu fazia o acompanhamento das empresas de mídia. Foram
distribuídos, ainda, mais de 50 mil adesivos Brasil afora, amplamente utilizados em veículos além de milhares de folhetos, bottons e cartazes e enviadas 20 mil malas diretas.

Neil nos deu esta enorme e amorosa lição – e que carrego em minha vida de
dirigente de organizações socioambientalistas –, a de contar com empresas e
profissionais do design e da publicidade para que as causas da sociedade sejam
comunicadas de forma clara e contundente.

O Brasil descobriu que 60% de sua população vivia sobre os escombros do
bioma Mata Atlântica, e que era urgente proteger os menos de 10% que restavam.
Obrigado Roberto Dualibi e Neil Ferreira e toda a equipe da DPZ e dos meios
de comunicação que contribuíram para a visibilidade e a urgência de conservar a
Mata Atlântica.

João Meirelles Filho