23 de abril de 2019

E por falar em saudade… Escrevi este texto há 1 ano e meio, quando soube da morte de Neil Ferreira. Meu ídolo, meu mestre, para mim Neil era imortal. Sem desmerecer todos os maravilhosos diretores de criação com quem trabalhei, a Neil eu presto tributo. Para mim, ele continua vivo, eterno, imortal…

“Você quer enganar quem, cara pálida”.

Eu tinha 28 anos e uma carreira promissora na Editora Abril. Era responsável pela revisão, preparação de textos, fotocomposição e composição gráfica. Ganhava bem e tinha um monte de benefícios. E estava cada vez mais longe do que eu gostava de fazer, que era escrever.

Resolvi que iria ser redator de propaganda. Através de alguns contatos, consegui chegar até meu ídolo, Neil Ferreira. Um ícone. Um mito. O cara que criava os anúncios e filmes que eu gostaria de ter feito. Ele tinha 30 anos, apenas 2 anos a mais do que eu…

Pedi um estágio. Disse que trabalharia de graça. Perguntou o que eu tinha para oferecer em troca. Disse que podia fazer revisão. Ele disse que já tinha revisor. Eu disse que faria revisão criativa. Ele olhou com aquela cara de gozação, rindo com os olhos, cara que eu iria ver mais dezenas de vezes nos próximos meses.

Acho que aprendi tudo o que eu sei de propaganda com ele. E olha que depois dele trabalhei com outros profissionais brilhantes. Mas ninguém superou os poucos meses em que fiquei com Neil. Logo ele saiu para seu ano sabático, de onde iria direto para a DPZ, para formar, com Zaragoza, uma das duplas mais brilhantes da história da propaganda.

Nicolla Raggio

A última vez que nos vimos pessoalmente foi no festival de propaganda do Rio. Ele na DPZ e eu na Almap. Ele disse que acompanhava e gostava do meu trabalho. Não dormi aquela noite, tentando gravar na memória a frase que me encheu de orgulho…

Nunca mais nos vimos pessoalmente. Um amigo comum tentou marcar um encontro, que foi sendo adiado até sempre.

Preso no hospital, não posso ir ao velório. Gostaria de chegar bem perto do caixão e dizer baixinho, só pra ele, a frase que era sua marca registrada: levanta daí Neil. Você quer enganar quem, cara pálida?…

Nicolla Raggio
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