Janeiro de 2024

Conheci o Neil pessoalmente em setembro de 1969.
Digo pessoalmente porque de nome já o conhecia desde que eu havia feito um estágio no estúdio da CIN (atual Leo Burnett) em 1968, aos 19 anos.
Ele já era super famoso, em 68 era diretor de criação da Alcântara Machado (como a ALMAP era conhecida na época), com campanhas premiadas.

Minha história com o Neil começa quando o Sergino de Souza, grande redator e meu mentor profissional, me apresenta a ele na Norton, para onde havia ido e levado uma incrível equipe, formada pelo José Fontoura, Aníbal Guastavino, Jarbas de Souza e pelo Carlos Wagner de Morais.

Nesse momento a Norton era a agencia mais criativa do Brasil, e entrar lá era o sonho de qualquer jovem aspirante a criativo publicitário. Pois não é que o Neil – que tinha trabalhado na Alcântara Machado com o Sergino – foi com a minha
cara e me contratou como montador auxiliar? (abaixo disso não há nada no estúdio, só o pessoal da limpeza).

Meu primeiro emprego com carteira assinada…feliz da vida porque estando no estúdio poderia ver e montar – e mais tarde ilustrar – os layouts das maravilhosas campanhas que eram feitas, e aprender com elas.

Nessa época tive pouco contato com o Neil, porque o estúdio ficava separado da criação, mas quando nos cruzávamos no elevador sempre era simpático e perguntava como eu estava indo no trabalho.

Corta para dez anos depois, 1979.
Neste ano fui chamado para a DPZ pelo Washington Olivetto (com quem havia feito dupla na Lince/Julio Ribeiro/Casabranca), para fazer dupla com a Marita Soares.

Estávamos no andar do Petit, que fazia dupla com o Washington.
Para quem não sabe, a DPZ estava dividida em 3 grupos criativos: no quinto andar estava o grupo do Petit, no sexto o do Zaragoza e no sétimo o do Roberto Duailibi.

O Neil nessa época fazia dupla com o Zaragoza, para mim o melhor diretor de arte do Brasil (sorry Petit), fazendo campanhas sensacionais.

O Neil lembrava de mim, a cada tanto nos encontrávamos.
Pois não é que em julho de 79, mesmo ano, recebo um bilhete do Zaragoza perguntando se eu não queria ficar no lugar dele, porque is sair de férias, e fazer dupla com o Neil??

Nelo Pimentel

Quase caí da cadeira!!! Perguntei ao Petit se estava tudo bem e lá fui eu sentar no lugar do Zaragoza, ídolo absoluto, e fazer dupla com outro ídolo… deu tremedeira.

Foi incrível.
O Neil não era um cara fácil de trabalhar, um nível de exigência altíssimo, mas o resultado foi ótimo, com algunas campanhas muito boas como as da TELESP.
Aprendi mais nesse mês do que em muitos anos anteriores.

Alguns anos depois, agência vai agência vem, voltei para a DPZ: o Zaragoza, sempre generoso, me aceitava de volta tipo filho pródigo cada vêz que saía da DPZ…

Agora a coisa estaba diferente, porque o Zaragoza estava numa sala sozinho, e eu faria dupla com o Neil oficialmente. Já conhecia seu jeito de trabalhar, e pudemos fazer belos trabalhos.

Minha inquietação profissional me levou por outros caminhos e outros países, mas sempre lembro com carinho dessa época da DPZ e do aprendizado com o Neil.

Voltando a 1969, quando entrei na sala do Neil na Norton, vi na parede um anúncio que dizia “Thanks Neil”.
Os americanos acabavam de chegar na Lua, e o anúncio obviamente se referia ao Neil Armstrong. Mas sem dúvida era também uma piada interna, agradecendo ao Neil sabe-se lá o que…

Pois esse antigo anúncio resume o que quis dizer até agora.
Thanks, Neil.

Nelo Pimentel